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segunda-feira, 20 de setembro de 2010

sexta-feira, 3 de setembro de 2010

450 anos de que?


A cidade de Mogi comemora seu aniversário com uma festa "espetaculosa " como qualquer festa de aniversário dessas quando os números arredondam. Faz lembrar as comemorações dos 500 anos do Brasil promovida pela rede globo e as elites brasileiras. Elegem então as suas “maravilhas” chamam a todos pra comemorar.
Mas será que nós que só herdamos dos nossos antepassados a nossa rica cultura temos o que comemorar?
Vamos começar do começo.
Mogi realmente tem 450 anos? Não viviam os índios aqui há milhares de anos? Que foi feito deles? Escravizados, mortos, dispersados. Deles só ficou o nome Mogi (Boigy) que ainda foi modificado pra que os senhores pudessem se identificar. Se ainda estivessem aqui os indígenas quantos anos será que estariam a comemorar? Será que o 1° de setembro seria a data?
Então, o que comemoramos?
450 anos de chegada do europeu... 450 anos de destruição do meio ambiente... 450 anos de escravização e massacre da população indígena... 450 anos de escravização e violência de todo o tipo com os povos da Africa...  450 anos de racismo e machismo... 450 anos de pobreza para muitos e riqueza para poucos... 450 anos de humilhações sociais e poder... 450 anos de violência e corrupção...
É importante lembrar que com o “fim da escravidão” os antigos escravos foram largados a própria sorte, sem terras, sem trabalho e sem pão. Enquanto os senhores mantiveram pra si toda a terra que é um bem natural (por tanto devia pertencer a todos) e todo o direito de se apropriar de mais terras e de tudo que fosse extraído dela, os indígenas foram dizimados.
As consequências estão aí mostradas pela realidade das favelas, os quilombos urbanos de hoje, é lá que estão os que sobreviveram a esses 450 anos.
450 anos de invasão, apropriação das terras, escravização e violência de povos nativos e outros sequestrados de outras terras, destruição do meio ambiente em nome do progresso. É isso que estão comemorando.
Isso tudo fica bem claro quando recebemos um folder com uma imagem de divulgação da tal festa em que aparecem os bandeirantes um de cada lado, os mesmos que aparecem no brasão da cidade segurando uma parte de uma armadura cheia de flechas, aparecem agora pra convidar a todos pra festejar juntos as suas vitórias.
Nós, as pessoas da comunidade, as pessoas comuns nada temos a comemorar.
 Imagine que no tempo da escravidão, os escravos fizessem uma festa de aniversário para homenagear seu senhor, com bolo e parabéns. Seria algo absurdo e impensável. Da mesma forma, os artistas populares cometem grave erro ao colocar sua arte a serviço do aniversário dos senhores. Estão sendo usados, dessa maneira. Participar deste circo todo é colaborar com a falsa imagem do fim da escravidão e também a falsidade mito da igualdade racial que nos é imposta guela abaixo pelos meios de comunicação todos os dias.
Falta de compromisso com a nossa verdadeira história.
Afinal, essa é a nossa história? Não, esta é a história deles! Dos senhores de escravos, e não dos escravos.
Nada aqui foi escolhido pelos índios ou pelos negros ou pelos brancos pobres.
Por isso, nós batuqueiros, do povo pobre e oprimido que acorda cedo e pega no batente, do povo honesto e trabalhador, nós, herdeiros do escravo Sebastião, de Zumbi dos Palmares, Malunguinho e do povo herói anônimo, queremos contar e comemorar a nossa história, a nossa memória, e não a dos senhores. Queremos nosso lugar, nossa alegria, nossa liberdade, fazer a nossa festa, com as nossas bandeiras, nossas canções e nossas cores! Não participamos, portanto, da festa de aniversário de nossos senhores. Sentimos muito ver o nosso povo, nossos irmãos se prestando a isso e convidamos todas e todos, a refletir sobre isso.
Axé pra todos !!